COMO TUDO COMEÇOU? (PARTE I)
Essa é a pergunta que o homem tenta responder desde seus primórdios. Várias postulados teológicos, científicos e filosóficos tentam trazer respostas para o assunto. Nesta série, vamos apresentar alguns desses postulados e analizarmos o quanto a resposta pode estar próxima ou distante da realidade. Começaremos com o postulado Criacionista e suas vertentes.
O termo Criacionismo[1] ou Criação Especial é usado para referenciar a criação do universo, da terra, da vida, dos seres vivos como resultado de um ato criador intencional. Todos os cristãos, por definição são criacionistas. Para o físico brasileiro Adalto Lourenço (2007, p. ix), o tema criação, muito além de fascinante e também controverso, é de muita importância, porque o assunto das origens nos diz afinal quem somos.[2]
Para o cristianismo, não se pode conhecer a Deus senão pela fé. Deus não pode ser provado de nenhuma maneira, como também, ninguém ou nada pode provar a sua inexistência. É consenso entre os cristãos que Deus é o criador de todas as coisas existentes. Conforme a Declaração de fé das Assembleias de Deus, citando o Credo Apostólico, diz: “Creio em Deus Pai, criador do céu e da terra” (SOARES, 2017, p. 217).
Na opinião de alguns criacionistas existem divergências com relação à datação da terra. Alguns datam de 6.000 a 10.000 anos, outros que a terra é muito antiga, havendo uma intervenção divina nos vários estágios da criação. Para Denis Alexander[3] (2017, p. 45), isso não pode ocultar o fato de que, na realidade, todos os cristãos são criacionistas num sentido mais básico, eles apenas diferem em sua forma de ver como Deus criou o Universo, independentemente de sua idade.[4]
Devido à dificuldade de não podermos ler a Bíblia em sua forma original, no hebraico ou no grego, muitos atribuem o fato de apenas ler e não a interpretar de maneira literal em sua totalidade e sim alegórica, evitando assim controvérsias e fugindo dos implacáveis inimigos da Palavra de Deus. Pode-se dizer que o Criacionismo não é um tema novo. Já foi debatido na Grécia antiga, por volta do século V a.C., nos tempos dos antigos filósofos gregos, como bem nos assegura Lourenço (2007, p. 20):
Tanto o naturalismo evolucionista quanto o criacionismo não são cosmovisões modernas, propostas recentemente, suas origens podem ser traçadas até os tempos dos filósofos gregos, a cerca de 2660 anos atrás, pelo menos. […] um grupo defendia a tese de uma possível geração espontânea, em que tanto o Universo quanto a vida teriam vindo à existência por meio de processos chamados naturais […] uma retrospectiva das propostas encontradas na Grécia antiga pode ajudar na compreensão das duas posições atuais quanto às origens.
Tales de Mileto (621-543 a.C.) foi um dos primeiros filósofos fisicalistas conhecidos na história a propor que o mundo teria evoluído da água. Essa evolução teria se dado por meio de processos naturais. Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) foi um dos discípulos de Tales. Segundo ele, tudo o que existe no Universo seria proveniente de 4 substâncias básicas: água, ar, terra e fogo. Empédocles de Agrigento (492-430 a.C.) propôs que plantas e animais não teriam surgido espontaneamente. Foi ele quem também fez uma das propostas mais conhecidas dentro do posicionamento evolucionista, a “sobrevivência do que está mais bem capacitado”. Leucipo (século V a.C.) e Demócrito (460-370 a.C.) foram os pais da filosofia atomista e do atomismo, propondo que a realidade cósmica é representada por um vazio e uma quantidade infinita de átomos. Platão (427-347 a.C.) propôs que, o universo, sendo regido pelas leis encontradas na natureza, principalmente as que na época eram conhecidas pela geometria, havia sido criado por um criador de acordo com um plano racional. Foi um dos primeiros filósofos gregos a aceitar a redondeza da terra. Aristóteles (384-322 a.C.) foi um discípulo de Platão. Aceitava também, pelas mesmas razões de Platão, que o universo havia sido criado (LOURENÇO, 2007, pp. 20-21)[6]
O resultado de duas gerações de doutrinamentos evolucionistas foi devastador. As escolas secularizadas geraram uma sociedade secularizada (MORRIS, 1974, p. vii).[7] O secularismo e o relativismo têm obscurecido a forma como o Criacionismo poderia ser apresentado nos círculos acadêmicos. A verdade é que a controvérsia sobre as origens toca as fibras mais profundas dos nossos conceitos éticos, morais, sociais e religiosos. Eis porque muitos agem mais de forma passional do que racional a esse tema. Ainda sobre o doutrinamento nos centros educacionais, observamos uma crescente tentativa de abandonar totalmente a Bíblia como fonte de respostas com relação às origens e ao pensamento evolucionistas, isso tem ocupado não só as mentes, mas também o sentimento academicista, formando assim barreiras de entendimento na visão secular.
Assim sendo, o evolucionismo hoje se constitui na única versão das origens ensinada nas escolas de todo o mundo. Os livros escolares estão repletos de supostas evidências, geralmente apresentadas como provas indiscutíveis da evolução. A explosão do Big Bang,[8] o homem das cavernas, as similaridades entre os seres vivos, são apenas alguns dos elementos dessa fantástica estória que mistura sinuosamente fatos e hipóteses. Há muito tempo a narrativa bíblica da Criação era tida como expressão da verdade a cerca das nossas origens. Hoje, vivemos um tempo em que a grande maioria dos cientistas crê que, a teoria da evolução é a resposta por excelência para o enigma das origens, e é só o que se ensina em nossas escolas e universidades a esse respeito. Como foi que chegamos a esse ponto? De que modo o sistema educacional se viu completamente imerso na filosofia evolucionista? (SILVA NETO, 2003, p. 11).[9]
Acaso se ensinará ciência a Deus, a ele que julga os excelsos? Jó 21.22
Continua…
[1] Criacionismo – O mesmo que Teologia da Criação. É a doutrina de que tudo quanto existe foi criado por Deus. Opõe-se à teoria da evolução elaborada por Charles Darwin (ANDRADE, 1996, p. 79).
[2] LOURENÇO, A. Como tudo começou: Uma introdução ao Criacionismo. 1ª. ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2007.
[3] Denis Alexander, cristão evangélico, nascido em 1945, é o diretor emérito do Instituto Faraday de Ciência e Religião no St. Edmund’s College, em Cambridge, biólogo molecular e autor de Ciência e Religião.Ele também é editor da Science and Christian Belief.
[4] ALEXANDER, D. R. Criação ou evolução: precisamos escolher? 1ª. ed. Viçosa: Ultimato, 2017.
[5] Desde o princípio os primeiros filósofos buscavam investigar as causas, o princípio e o fundamento para a existência do mundo. A partir da busca pela compressão da existência do mundo, deu-se então uma investigação e a busca pela a explicação dos fenômenos já existentes e até mesmo daqueles que poderiam existir, que até então ainda são objetos de pesquisa, por aquelas que adentram no campo do conhecimento. Esse filósofos ficaram conhecidos como “Filósofos da natureza” (physis). daí o nome Fisicalistas. Fisicalismo (in. Physicalism; fr. Physicalisme; al. Physicalismus; it. Fisicalismo). Nome proposto por Neurath (em Erkenntnis, 1931, p. 393) como denominação do círculo de Viena, que via na linguagem o campo de indagação da filosofia, para acentuar o caráter físico da linguagem. É a doutrina filosófica segundo a qual a linguagem da Física deverá ser a linguagem de toda a ciência. Para o fisicalismo, mente é igual a corpo, e tudo se reduz a um processo físico, não existem ideias privadas. É uma doutrina filosófica de que tudo o que existe no mundo espaço-temporal não é mais do que as suas propriedades físicas. Toda a propriedade de uma coisa física ou é uma propriedade física ou uma propriedade que de algum modo está intimamente relacionada com a sua natureza física. Na filosofia contemporânea este termo é muito utilizado em filosofia da mente e muito associado aos problemas da mente-corpo. Como o fisicalismo reclama que não há mais coisas para além das coisas físicas, pode considerar-se uma doutrina ontologicamente monista. O fisicalismo ontológico nega coisas como almas cartesianas e divindades sobrenaturais. ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. 6ª. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes LTDA, 2012, p. 539.
[6] LOURENÇO, A. Como tudo começou: Uma introdução ao Criacionismo. 1ª. ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2007.
[7] MORRIS, H. M. O enigma das origens: a resposta. 1ª. ed. São Paulo: Editora Origens, 1974.
[8] Big-Bang, Teoria do – [Do ing. grande explosão + do gr. teoria, visão panorâmica] Teoria cosmológica que alega ter o universo se originado de uma explosão inicial ocorrida há bilhões de anos. Consequentemente, a matéria espalhou-se, resultando no que convencionamos chamar de universo. A teoria do Big-Bang é conhecida também como a Teoria do Estado Superdenso. Hoje os cientistas já começam a questionar este ponto de vista. Mesmo aqueles que se dizem ateus, veem-se obrigado a aceitar como razoável o relato bíblico da criação (ANDRADE, 1996, p. 52).
[9] SILVA NETO, C. P. D. Origens: a verdade objetiva dos fatos. 1ª. ed. Belo Horizonte: Editora Betânia, 2003.
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