É BÍBLICO A CONSAGRAÇÃO DE MULHER AO DIACONATO OU PASTORADO?
Alguns usam o texto da carta de Paulo aos Romanos v. 1 cap. 16, para afirmar que na tradução original, este versículo indica que Febe exercia o cargo de diaconisa. Infelizmente este tem sido mais um tema bastante controverso, a meu ver, sem razão que justifique tanta polêmica. O termo que Paulo usa no original, traduzido por “serve” é διάκονον (diáconon) no acusativo, singular, do gênero feminino, que significa: assistente, serva. Naquele contexto original, ninguém iria compreender que Paulo estava a dizer que a irmã Febe exercia um cargo ou ofício eclesiástico dentro da hierarquia na liderança da Igreja local, mas que a irmã Febe era uma cooperadora do apóstolo como muitas outras mulheres que serviam na Igreja.
Muitos há que usam o argumento do sacerdócio universal dos crentes extraído do texto de (1 Pe 2.5,9), para justificar a inserção de mulheres no ministério cristão. O texto diz: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo (…) Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” . Contudo, este texto em lugar algum faz referência à consagração de mulheres ao ministério eclesiástico, seja como diaconisas ou mesmo pastoras. O sacerdócio santo e real mencionado no texto diz respeito à condição de acesso ao Pai por meio de Cristo, para servi-lo no temor de sua palavra. Ou seja, quer dizer que cada crente genuíno, independente de sexo, ou de qualquer outra condição, pode oferecer sacrifício (Rm 12.1) mediado exclusivamente por Cristo, no que concerne a adoração. No que tange ao discipulado cristão, o cristão deve sim obedecer aos líderes a quem Cristo estabeleceu na Igreja com vistas o aperfeiçoamento dos santos (Ef 4.11,12; Hb 13.7,17). Diferente do que acontecia na Antiga Aliança, quando o povo de Deus tinha de trazer a oferta, entregar ao sacerdote e este por sua vez, oferecia a Deus, com um detalhe, na Antiga Aliança, somente os descendentes de Arão, os da tribo de Levi, eram escolhidos para servir no sacerdócio, ainda que, nem todo o levita era sacerdote, mas todo o sacerdote tinha que ser levita. Com o estabelecimento do sacerdócio de Cristo, Ele faz todo aquele que nele crer, sacerdote para oferecer sacrifícios espirituais a Deus. É neste sentido que o sacerdócio cristão é universal.
Ao iniciar seu ministério terreno, Jesus escolheu e chamou para si doze homens, que no devido tempo, seriam erguidos a condição de líderes da Igreja, baixo a Sua autoridade. Esses doze homens, por sua vez, como sabiam que não viveriam eternamente, seguindo a orientação do Mestre, formaram outros líderes para que tocassem adiante a causa do Mestre, e assim foi. Em Ef 4.11,12, lemos: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo…”. Neste texto que menciona a outorga dos dons ministeriais nada há que indique a atribuição de nenhum dos dons mencionados as mulheres crentes de então. Se devemos seguir o exemplo de Cristo e de seus apóstolos no que concerne a escolha da liderança, então a discussão sobre a ordenação feminina a ofícios eclesiásticos dentro da hierarquia eclesiástica é em si mesma infrutífera.
Entretanto o fato de não existir nenhuma linha nas Escrituras, nem na história da primeva Igreja que indique a presença de mulheres consagradas ao pastorado ou ao diaconato, o Senhor Jesus teve muitas cooperadoras durante o seu ministério terreno, entre as quais podemos citar: Maria Madalena; Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes; Suzana e outras, todavia, quando o Mestre decidiu formar o colégio apostólico, chamou após si, doze homens e nenhuma mulher. É o que nos diz o médico Lucas em Lc 6.12-16: “E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus. E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos: Simão, ao qual também chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; E Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor”. É oportuno ressaltar que o Senhor Jesus fez a escolha daqueles que estariam compondo o colégio apostólico depois de uma noite de oração. Portanto, se estivesse nos planos de Deus que as mulheres também deveriam participar do ministério, como diaconisas ou pastoras, certamente Jesus as teria escolhido.
Mais a frente, estando os apóstolos de Cristo reunidos, depois de sua partida, deliberando sobre quem substituiria a Judas, o apóstolo Pedro propõe, (At 1.21-26): “É necessário, pois, que, dos homens que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que de entre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição. E apresentaram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias. E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar. E, lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum foi contado com os onze apóstolos”. É oportuno destacar que mais uma vez a escolha não foi dirigida por vontade humana, mas por desígnio do próprio Deus. Note-se que, seguindo o mesmo padrão estabelecido pelo Mestre, os discípulos, antes de escolher quem seria a pessoa que substituiria Judas, eles oraram a Deus. Se Deus quisesse, poderia ter orientado que uma mulher tomasse parte no apostolado, completando o número de doze.
Quando da instituição do corpo diaconal nenhuma mulher foi incluída para assumir esse ofício eclesiástico. Em Atos 6.1-6, lemos: “Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; E os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos”. Nenhuma serva de Deus é elencada entre os primeiros diáconos.
Conquanto o apóstolo Paulo tenha contado com a cooperação de várias servas de Deus, a exemplo de Lídia, Evódia, Síntique, Prisca, esposa de Áquila a própria Febe, quando escreve a Timóteo orientando-o quanto as qualificações de bispos e diáconos, não inclui uma única mulher sequer (1 Tm 3.1-10). Escrevendo a Tito sobre o mesmo assunto, também não menciona mulheres na atividade presbiteral (Tt 1.5-10). Pedro fazendo recomendações aos anciãos da Igreja da dispersão, nada fala sobre a presença de mulheres na composição do ministério (1 Pe 5.1-9).
Mediante o exposto, podemos dizer que, conquanto as mulheres não tenham sido citadas em nenhum momento da Igreja primitiva como diaconisas e pastoras, pode-se ver as mulheres cooperando ativamente, sendo cooperadoras de Cristo e dos apóstolos, e até hoje, nas Igrejas genuinamente cristãs, tem sido assim. Muitas mulheres de Deus têm sido de grande ajuda ao ministério da Igreja. A história da Igreja tem sido marcada pela vida de santa mulheres de Deus que nunca tiveram o título de diaconisas ou pastoras, mas deixaram um legado espiritual de piedade e dedicação ao serviço do Mestre. Infelizmente, na medida em que o tempo passa os conceitos e ideologias humanas vão se infiltrando no meio do povo de Deus, e começam a surgir interpretações de determinados textos bíblicos para atender a todos os gostos, no entanto, preferimos ficar com aquilo que diz as Escrituras.